PROJETO

O projeto AUDIO&BOOKS pretende refletir sobre a relevância do livro impresso num mundo cada vez mais digital e a forma como este se tem relacionado e adaptado às formas de livro emergentes, em particular o audiolivro. Neste sentido, de modo a explorar a relação entre estas duas formas de livro, foram desenvolvidos três objetos principais que se complementam: um audiolivro, uma publicação e um website. Através da articulação entre todos os elementos que compõem o projeto, pretende-se propor uma experiência de leitura única, subjetiva e pessoal. Assim, nesta página, são descritas todas as etapas do processo.

SELEÇÃO DA OBRA A NARRAR
E REFERÊNCIAS

Para dar início ao desenvolvimento do audiolivro foi necessário selecionar a obra ou conteúdo textual a narrar. Para tal, várias opções foram tidas em conta: desde contos ou romances completos, a poemas. Era importante considerar a dimensão do texto selecionado, uma vez que o seu tamanho influenciaria a duração do audiolivro. Deste modo, seria fundamental optar por um texto que fosse de encontro aos objetivos e tema do projeto, e que, aquando da sua gravação, permitisse desenvolver um audiolivro suficientemente longo, mas que não se tornasse exaustivo.

Neste sentido, concluiu-se que a melhor opção seria o poema Ode Triunfal, de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), publicado originalmente no primeiro número da revista Orpheu, em 1915. Não só o poema selecionado se trata de uma das grandes obras da poesia portuguesa, como, para além de apresentar o tamanho ideal para a criação do audiolivro do presente projeto, se relaciona diretamente com as influências futuristas (conceptuais e gráficas) do trabalho.

ÁLVARO DE CAMPOS

Álvaro de Campos é um dos principais heterónimos de Fernando Pessoa. Nasceu em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890 e teve uma “educação vulgar de liceu”. Mais tarde, viajou para a Escócia, onde estudou engenharia mecânica e engenharia naval (Casa Fernando Pessoa, s.d.). É fascinado pela civilização industrial, pela técnica, pela energia e pela força, desejando todas as sensações (Rocha, 2012, p. 72). Numa carta enviada a Adolfo Casais Monteiro, Fernando Pessoa descreve Álvaro de Campos como o heterónimo “(...) mais histericamente histérico (...)”, cuja escrita surge “(...) num jacto, (...) sem interrupção nem emenda” (Pessoa, 1935).

Referências: https://casafernandopessoa.pt/pt/fernando-pessoa/obra/alvaro-de-campos; https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2012v16n31p71; https://casafernandopessoa.pt/pt/fernando-pessoa/textos/heteronimia.
Imagem de: http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30005/1469.

JOSÉ ANJOS

“José Anjos (Lisboa, 1978) é formado em Direito, tendo exercido advocacia durante alguns anos. Músico e poeta, publicou os livros “Manual de Instruções Para Desaparecer” (Abysmo, 2015) e “Somos Contemporâneos do Impossível” (idem, 2017). Tem participado em várias sessões de poetry slam, destacando-se como leitor de poesia e músico acompanhante em soirées de leitura ao vivo”

Texto de: https://teatrodarainha.pt/artista/jose-anjos/.
Imagem de: Vox Artist.

O PROCESSO DE GRAVAÇÃO
E PÓS-PRODUÇÃO

Após a seleção da obra Ode Triunfal de Álvaro de Campos, deu-se início ao desenvolvimento do audiolivro do projeto. Para tal, recorreu-se aos serviços de uma empresa para garantir a qualidade da narração, quer ao nível da interpretação da obra quer ao nível do som.

Para o audiolivro do presente trabalho, procurava-se um narrador masculino com uma voz grave e agradável, com capacidade para declamar os versos do poema com fluidez e naturalidade. Neste sentido, concluiu-se que o narrador José Anjos seria a melhor opção para este projeto, uma vez que a sua voz preenchia todos os requisitos anteriormente mencionados.

De seguida, iniciou-se o processo de gravação. Primeiro, foi necessário enviar ao narrador o conteúdo textual e um briefing, com algumas indicações para a narração. Estas anotações iniciais deveriam descrever o que era pretendido de forma a, aquando da gravação da obra, a sua interpretação estar o mais próximo possível daquilo que era esperado. Posteriormente ao envio do briefing, o narrador fez uma leitura do texto (gravação de um excerto), tendo, de seguida e de acordo com o feedback recebido, efetuado a gravação da obra completa.

De acordo com o narrador, este processo revelou-se bastante desafiante: não só a Ode Triunfal é um dos poemas mais louvados e conhecidos da literatura portuguesa, e como tal, foi já bastante declamado e interpretado por diversos atores, (cada um com o seu registo), como se trata de uma obra bastante exigente e difícil de narrar, tanto pela sua mensagem, como pela sua intensidade rítmica. Ao longo de todo o processo, o narrador José Anjos procurou transmitir a intenção e o espírito da obra de uma forma neutra e, de certo modo, objetiva. Defendendo que o papel de um narrador é “apenas” o de transmissor ou mediador, este procurou dar voz ao poema sem o danificar e sem se impor ao longo da narração. Uma locução excessiva ou mais subjetiva poderia ser prejudicial, podendo condicionar ou influenciar a experiência de quem ouve.

Por fim, depois da locução, deu-se início à pós-produção. Nesta etapa, foram corrigidos alguns artefactos criados pela relação da voz com o microfone e de sons relacionados com movimentos do narrador ou criados pela própria saliva, assim como foi minimizada a influência da acústica do espaço onde foi realizada a gravação. Foi ainda necessário selecionar os fundos musicais e os efeitos sonoros a colocar no ficheiro final.

Uma vez todos os elementos misturados e de acordo com o pretendido, foi possível dar o audiolivro como concluído.

O MIOLO

A publicação pretende explorar a capacidade expressiva da tipografia e testar os limites da relação entre o audiolivro e o livro impresso. Deste modo, as suas páginas são constituídas por composições tipográficas que procuram representar visualmente o ritmo, a intensidade e a cadência da narração do audiolivro do projeto.

Antes de se iniciar verdadeiramente a construção do miolo, foi necessário definir a estrutura da publicação. Neste sentido, concluiu-se que esta seria constituída pelo miolo, pela capa, por um poster, por quatro postais e por um código QR.

Graficamente, procurou-se relacionar todos estes elementos, com o poema Ode Triunfal, optando-se, por isso, pela utilização de preto e branco e pela valorização da tipografia como um elemento gráfico e ilustrativo.

O desenvolvimento do miolo iniciou-se com a divisão dos versos do poema pelos spreads da publicação. Esta organização foi realizada de acordo com a estrutura original do poema (revista Orpheu), de forma a evitar cortar versos ao meio ou a quebrar alguma linha de pensamento do sujeito poético. Durante este processo, foi também tido em conta o audiolivro do projeto, atentando-se às pausas e ao ritmo do narrador, à continuidade dos versos e aos sons predominantes. No fundo, em cada spread da publicação, encontram-se representados um ou mais versos do poema (versos completos).

Uma vez dividido o poema, iniciou-se o desenvolvimento das composições tipográficas que iriam integrar o miolo da publicação.

Para realizar cada composição foi necessário recorrer novamente ao audiolivro. De modo a traduzir visualmente os versos do poema com algum rigor (reconhecendo ao mesmo tempo que este processo se trata de um exercício bastante subjetivo), foi necessário ouvir o audiolivro várias vezes, prestando especial atenção à entoação, ao ritmo, às pausas e aos sons predominantes durante a interpretação do narrador. Em cada composição procurou-se representar os sons mais evidentes e preponderantes de cada conjunto de versos, assim como algumas palavras-chave que poderiam orientar o leitor/ouvinte pela página. Estas indicações, seriam fundamentais para uma melhor experiência de leitura, dado que muitas das composições da publicação são propositadamente caóticas, confusas e desordenadas. Pretendia-se que cada composição retratasse o ritmo geral do seu respetivo conjunto de versos narrados, que permitisse explorar graficamente a tipografia e que fosse fiel ao audiolivro.

Divisão do poema pelos spreads da publicação e identificação dos sons e palavras predominantes na obra e na narração do audiolivro (Ana Margarida Matos ©).
Etapas do desenvolvimento de uma das composições tipográficas da publicação (Ana Margarida Matos ©).
Algumas das composições tipográficas da publicação do projeto (Ana Margarida Matos ©).
A CAPA

Inicialmente, a capa da publicação iria ser constituída pelo logótipo do projeto e por composições do miolo. Alguns dos seus elementos tipográficos seriam copiados e reutilizados, de forma a criar uma nova composição. Foram realizadas diversas versões de acordo com esta ideia inicial, no entanto, considerou-se que optar por esta solução gráfica não seria o mais indicado para a capa final da publicação, uma vez que a tornava ruidosa e demasiado preenchida.

Deste modo, concluiu-se que esta deveria ser simplificada ao máximo, apresentando apenas o logótipo do projeto. Uma capa discreta e com poucos elementos suscitaria a curiosidade do leitor/ouvinte para o interior da publicação, não revelando logo à partida o seu conteúdo.

Primeiras versões e capa final da publicação do projeto (Ana Margarida Matos ©).
O POSTER E OS POSTAIS

O poster e os postais foram desenvolvidos de forma a enriquecer a experiência do leitor/ouvinte, atuando como objetos complementares do miolo da publicação e como um prolongamento do projeto.

O poster reúne um ou mais elementos de cada composição tipográfica do miolo da publicação, de modo a criar uma nova composição. Este apresenta as dimensões de um A3 e, dando continuidade à identidade visual já estabelecida ao longo do projeto, foi desenvolvido a preto e branco e com recurso a elementos tipográficos.

Por sua vez, os postais tratam-se de objetos de pequenas dimensões (15cm por 10,5 cm) e, tal como o poster, são compostos por um ou mais elementos de cada composição do miolo da publicação. De forma a construir-se um conjunto coeso e completo, foram realizados quatro postais que, uma vez colocados lado a lado, permitiam criar uma nova composição.

Uma vez concluídos os postais, foi também elaborado um contentor para os acondicionar. Estes elementos são incorporados na publicação através de uma bolsa extensível (construída durante a encadernação), colocada no interior da contracapa.

Desenvolvimento do poster e dos postais do projeto (Ana Margarida Matos ©).
O poster, os postais e o seu contentor (Ana Margarida Matos ©).
O CÓDIGO QR

Após concluído o miolo, a capa, o poster e os postais, foi necessário criar o código QR. Este permite ligar a publicação impressa ao audiolivro, direcionando o leitor/ouvinte para o website do projeto.

Considerou-se que utilizar um código QR para estabelecer esta ligação, seria a melhor opção para o presente trabalho, uma vez que se trata de uma solução comum, de fácil e prática utilização e, como tal, conhecida por grande parte dos possíveis leitores/ouvintes do projeto.

O código QR foi criado através do website QR Code Generator. Para tal, foi necessário o url da página do website do projeto que contém o audiolivro, de forma a que, aquando da utilização do código, o leitor/ouvinte seja direcionado para esta página e possa dar início a toda a experiência.

Uma vez criado o código, deu-se início à construção do objeto editorial que iria permitir a sua integração na publicação e a sua apresentação ao leitor/ouvinte. Este apresenta pequenas dimensões de forma a diferenciar-se das páginas do miolo e a suscitar o interesse do leitor. Para a sua construção, à semelhança dos elementos anteriormente desenvolvidos, optou-se por dar continuidade à direção gráfica estabelecida.

Desenvolvimento e versão final do código QR do projeto (Ana Margarida Matos ©).
DESENVOLVIMENTO DO WEBSITE

O website é um dos principais elementos do projeto AUDIO&BOOKS. Este não só desempenha o papel de contentor digital de todo o projeto, reunindo os seus conteúdos e apresentando, de forma geral, todas as etapas necessárias para alcançar o resultado final, como se trata do meio de ligação entre o audiolivro e a publicação impressa.

Antes de se iniciar a construção do website do projeto, foi necessário definir a sua estrutura. Após algumas pesquisas, concluiu-se que este seria constituído por quatro páginas: homepage; sobre; página do projeto e página do audiolivro. Pretendia-se criar um website simples, claro e que fosse o prolongamento digital de todo o projeto.

De seguida, de forma a verificar algumas ideias iniciais (que poderiam já não ser as mais indicadas) e a definir a linguagem gráfica do website, foi desenvolvido um protótipo.

Uma vez terminado este objeto, iniciou-se a construção de cada página do website. Durante esta etapa, foram utilizadas três linguagens web: HTML, CSS e JavaScript (apenas para elementos mais complexos).

Por fim, após a finalização de todas as páginas, o website foi colocado online e o projeto AUDIO&BOOKS dado como concluído.

Primeiras ideias para o website do projeto (Ana Margarida Matos ©).
Protótipo finalizado do website do projeto (Ana Margarida Matos ©).
Processo de construção da homepage do website do projeto (Ana Margarida Matos ©).