E REFERÊNCIAS
Para dar início ao desenvolvimento do audiolivro foi necessário selecionar a obra ou conteúdo textual a narrar. Para tal, várias opções foram tidas em conta: desde contos ou romances completos, a poemas. Era importante considerar a dimensão do texto selecionado, uma vez que o seu tamanho influenciaria a duração do audiolivro. Deste modo, seria fundamental optar por um texto que fosse de encontro aos objetivos e tema do projeto, e que, aquando da sua gravação, permitisse desenvolver um audiolivro suficientemente longo, mas que não se tornasse exaustivo.
Neste sentido, concluiu-se que a melhor opção seria o poema Ode Triunfal, de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), publicado originalmente no primeiro número da revista Orpheu, em 1915. Não só o poema selecionado se trata de uma das grandes obras da poesia portuguesa, como, para além de apresentar o tamanho ideal para a criação do audiolivro do presente projeto, se relaciona diretamente com as influências futuristas (conceptuais e gráficas) do trabalho.
ÁLVARO DE CAMPOS
Álvaro de Campos é um dos principais heterónimos de Fernando Pessoa. Nasceu em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890 e teve uma “educação vulgar de liceu”. Mais tarde, viajou para a Escócia, onde estudou engenharia mecânica e engenharia naval (Casa Fernando Pessoa, s.d.). É fascinado pela civilização industrial, pela técnica, pela energia e pela força, desejando todas as sensações (Rocha, 2012, p. 72). Numa carta enviada a Adolfo Casais Monteiro, Fernando Pessoa descreve Álvaro de Campos como o heterónimo “(...) mais histericamente histérico (...)”, cuja escrita surge “(...) num jacto, (...) sem interrupção nem emenda” (Pessoa, 1935).
Referências: https://casafernandopessoa.pt/pt/fernando-pessoa/obra/alvaro-de-campos; https://doi.org/10.5752/P.2358-3428.2012v16n31p71; https://casafernandopessoa.pt/pt/fernando-pessoa/textos/heteronimia.
Imagem de: http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30005/1469.
JOSÉ ANJOS
“José Anjos (Lisboa, 1978) é formado em Direito, tendo exercido advocacia durante alguns anos. Músico e poeta, publicou os livros “Manual de Instruções Para Desaparecer” (Abysmo, 2015) e “Somos Contemporâneos do Impossível” (idem, 2017). Tem participado em várias sessões de poetry slam, destacando-se como leitor de poesia e músico acompanhante em soirées de leitura ao vivo”
Texto de: https://teatrodarainha.pt/artista/jose-anjos/.
Imagem de: Vox Artist.
E PÓS-PRODUÇÃO
Após a seleção da obra Ode Triunfal de Álvaro de Campos, deu-se início ao desenvolvimento do audiolivro do projeto. Para tal, recorreu-se aos serviços de uma empresa para garantir a qualidade da narração, quer ao nível da interpretação da obra quer ao nível do som.
Para o audiolivro do presente trabalho, procurava-se um narrador masculino com uma voz grave e agradável, com capacidade para declamar os versos do poema com fluidez e naturalidade. Neste sentido, concluiu-se que o narrador José Anjos seria a melhor opção para este projeto, uma vez que a sua voz preenchia todos os requisitos anteriormente mencionados.
De seguida, iniciou-se o processo de gravação. Primeiro, foi necessário enviar ao narrador o conteúdo textual e um briefing, com algumas indicações para a narração. Estas anotações iniciais deveriam descrever o que era pretendido de forma a, aquando da gravação da obra, a sua interpretação estar o mais próximo possível daquilo que era esperado. Posteriormente ao envio do briefing, o narrador fez uma leitura do texto (gravação de um excerto), tendo, de seguida e de acordo com o feedback recebido, efetuado a gravação da obra completa.
De acordo com o narrador, este processo revelou-se bastante desafiante: não só a Ode Triunfal é um dos poemas mais louvados e conhecidos da literatura portuguesa, e como tal, foi já bastante declamado e interpretado por diversos atores, (cada um com o seu registo), como se trata de uma obra bastante exigente e difícil de narrar, tanto pela sua mensagem, como pela sua intensidade rítmica. Ao longo de todo o processo, o narrador José Anjos procurou transmitir a intenção e o espírito da obra de uma forma neutra e, de certo modo, objetiva. Defendendo que o papel de um narrador é “apenas” o de transmissor ou mediador, este procurou dar voz ao poema sem o danificar e sem se impor ao longo da narração. Uma locução excessiva ou mais subjetiva poderia ser prejudicial, podendo condicionar ou influenciar a experiência de quem ouve.
Por fim, depois da locução, deu-se início à pós-produção. Nesta etapa, foram corrigidos alguns artefactos criados pela relação da voz com o microfone e de sons relacionados com movimentos do narrador ou criados pela própria saliva, assim como foi minimizada a influência da acústica do espaço onde foi realizada a gravação. Foi ainda necessário selecionar os fundos musicais e os efeitos sonoros a colocar no ficheiro final.
Uma vez todos os elementos misturados e de acordo com o pretendido, foi possível dar o audiolivro como concluído.